Geoffrey Canada é um dos afortunados: um menino afro-americano criado em um bairro sombrio da cidade de Nova York que escapou da violência, da pobreza e das escolas abandonadas para obter um título de mestrado em Educação pela Universidade de Harvard. Mas Canada não esqueceu suas raízes; ele foi trabalhar imediatamente no bairro nova-iorquino do Harlem como educador e defensor das crianças.
Canada não apenas resolveu o seu próprio problema, mas também passou a ajudar centenas de outras crianças pobres, em situação de risco, de áreas carentes da cidade. Mas ele decidiu que ainda não era o suficiente.
Um programa da rádio pública de Chicago, chamado This American Life (Essa Vida Americana), descreve como, por volta dos anos 80, Canada percebeu que ajudar só umas poucas crianças não ia acabar com o círculo vicioso da pobreza no Harlem ou em qualquer outro lugar; sua organização precisava se esforçar e ajudar quase todo mundo.
“Para poder mudar de fato alguma coisa”, ele disse, “tínhamos de pensar em algo realmente grande. Tínhamos de trabalhar com milhares de crianças, chegando a 10 mil. E precisávamos trabalhar com essas crianças, desde o nascimento até sua formatura na faculdade”.
Sua proposta era ao mesmo tempo sem precedentes e cara. Mas Canada, 58 anos, um homem intenso e carismático, está implementando-a com sucesso por meio da Harlem’s Children Zone (HCZ) [Zona da Criança do Harlem], que agora atende a mais de 10 mil crianças com serviços sociais, educacionais e médicos abrangentes na região central do Harlem, com orçamento estimado em US$40 milhões para 2009.
As realizações de Canada estão chamando a atenção generalizada de líderes como modelo para quebrar o punho de ferro da pobreza por meio de um compromisso absoluto com as crianças e com seu bem-estar social — um compromisso resumido no título de um novo livro sobre o trabalho de Canada: Whatever It Takes [Tudo que For Necessário], de Paul Tough, editor da New York Times Magazine. Entre esses líderes está o presidente Barack Obama, que durante a campanha presidencial de 2008 elogiou a Harlem Children’s Zone como “um esforço abrangente e pragmático contra a pobreza que está literalmente salvando uma geração de crianças em um bairro onde se pensava que nunca teriam oportunidades”.
Os observadores estão impressionados não só com a visão de Canada, mas também com seus resultados. No ano passado, quase 100% dos alunos de terceira série da HCZ tiveram desempenho compatível ou superior à sua série no exame estadual, resultado sem precedentes para uma escola da área carente de Nova York.
Um elemento que Canada enfatiza é a exposição precoce à linguagem, partindo de pesquisas que mostram que a principal diferença entre famílias pobres e famílias de profissionais liberais não é a raça nem a renda, mas, como diz o escritor Paul Tough, “o simples número de palavras que os pais dizem às crianças”.
Os pesquisadores descobriram que nas famílias de classe média as crianças, desde o nascimento até os três anos de idade — período de máximo desenvolvimento cerebral —, escutam até 20 milhões de palavras a mais (às vezes as mesmas palavras repetidas) que as crianças pobres. Em outras palavras, algo tão simples como ler para a criança todas as noites, o que a HCZ pede a todos os pais, pode produzir resultados imensos e positivos na vida da criança.
Mas a leitura é apenas uma das chaves do enfoque revolucionário de Canada, que ele chama de “a esteira transportadora”, no sentido de que a HCZ não apenas intervém junto às crianças em certos momentos, mas oferece uma ampla variedade de serviços, todos gratuitos, “do berço à faculdade”. A esteira transportadora começa com o celebrado Baby College (Curso sobre Bebês) para grávidas e mães novatas, seguido pelo programa pré-escolar Harlem Gems (Jóias do Harlem) e pelas chamadas charter schools (escolas geridas em parceria público-privada) da Promise Academy — tudo complementado por assistência médica e odontológica gratuita, programas extracurriculares e serviços tão especiais quanto programas de atividade física para combater a obesidade e a ameaça desenfreada da asma infantil. E, depois, quando a primeira geração crescer, a HCZ a acompanhará durante o ensino médio e universitário.
“Eles recebem o que as crianças das classes média e alta recebem”, afirmou Canada na revista televisiva 60 Minutes. “Recebem segurança. Recebem estrutura. Recebem enriquecimento acadêmico. Recebem atividade cultural. Eles recebem o cuidado de adultos que os amam e que estão preparados para fazer o que for necessário. E, falo sério, estou preparado para fazer o que for necessário para manter essas crianças no bom caminho.”
Retirado de: http://www.embaixada-americana.org.br/HTML/ijse0309p/canada.htm
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