quinta-feira, 28 de maio de 2009

POLUENTES ORGÂNICOS PERSISTENTES

OS 12 MAIS INDESEJÁVEIS
Cláudia Fulgêncio

Os poluentes orgânicos persistentes (POPs) têm vindo a merecer cada vez mais a atenção da comunidade internacional. Numa primeira fase, as medidas de controlo definidas pela ONU incidem sobre 12 destes compostos químicos.

A comunidade internacional tem vindo a assumir uma preocupação crescente quanto ao controle dos poluentes orgânicos persistentes (POPs). E não é caso para menos – as suas características tornam-nos uma ameaça à saúde mundial.
A 11 de Dezembro de 2000, foi concluído, em Joanesburgo, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), um tratado que define um conjunto de medidas sobre a produção, importação, exportação, uso e eliminação deste produtos.
Mas o que são, afinal, os POPs?
Os POPs são compostos orgânicos que resistem à degradação química, fotolítica e biológica, de origem essencialmente antropogénica, nomeadamente associada ao fabrico e utilização de compostos químicos. Outros compostos, como as dioxinas e furanos, são formados, involuntariamente, a partir de processos de combustão.São compostos que possuem baixa solubilidade na água, mas alta solubilidade nos lípidos, o que tem como principal consequência a sua acumulação nos tecidos adiposos. Esta característica, aliada à sua persistência (intervalo de tempo que um composto é capaz de permanecer no ambiente antes de ser degradado noutros compostos mais simples), potencia a sua perigosidade ao nível da cadeia alimentar, e consequentemente, os riscos de exposição dos consumidores de topo, como é o caso do homem. A sua semi-volatilidade favorece o seu aparecimento em fase gasosa e a sua adsorção em partículas atmosféricas, o que facilita o transporte aéreo por longas distâncias.
Os POPs podem ser encontrados em todo o mundo, mesmo em regiões onde nunca foram fabricados ou manipulados. Alguns deles foram sujeitos a restrições, mas a sua utilização é ainda comum em muitos países. Factores como custos elevados e fraca divulgação têm contribuído para que as alternativas existentes não tenham ainda uma utilização generalizada.
Efeitos na saúde
Tal como muitos outros poluentes, é por vezes muito difícil atribuir directamente a responsabilidade de uma doença a um composto classificado como POP. Este facto é ainda agravado pelo facto de, na maior parte das vezes, os POPs não estarem presentes como um único composto, mas em associações.
Os seres humanos podem ser expostos aos POPs através da alimentação, de acidentes e através da poluição ambiental. A exposição ocupacional ou acidental a alguns POPs revela-se muito preocupante para a saúde humana. Algumas actividades de alto risco englobam a agricultura e a manipulação de resíduos perigosos. Por outro lado, deficientes condições de trabalho, falta de formação e a utilização de equipamento inadequado, são aspectos que fazem com que o risco de exposição dos trabalhadores da indústria química seja elevado.
Nos últimos anos, têm vindo a registar-se casos de exposição a POPs, que têm resultado num grande número de doenças e mortes. Um exemplo, é o caso da exposição ao hexaclorobenzeno na Turquia, que entrou na cadeia alimentar humana, provocando várias doenças do foro urinário e neurológico, para além da cirrose hepática.
Outro exemplo é o acidente de Seveso, na Itália, com a libertação de elevados teores de dioxinas, que tiveram como consequência um aumento considerável no cloroacne (doença de pele) na região.
Os 12 POPs prioritários
De acordo com o decidido em Joanesburgo, as medidas de controlo dos POPs incidem, numa primeira fase, numa lista de 12 compostos químicos, agrupados em três categorias. A lista inclui oito pesticidas (aldrina, clordano, DDT, dieldrina, endrina, heptacloro, mirex e toxafeno), dois químicos industriais (PCBs e hexaclorobenzeno, este também usado como pesticida) e dois subprodutos involuntários de processos industriais de combustão (dioxinas e furanos).
. Aldrina
A aldrina, preparada pela primeira vez no final dos anos 40, é um pesticida utilizado no controlo de insectos rastejantes, como térmitas, bichos da madeira e gafanhotos. Tem vindo a ser amplamente utilizado na protecção de colheitas de milho e batatas, assim como na protecção de estruturas de madeira contra a destruição provocada por térmitas.
A aldrina é rapidamente metabolizada, tanto pelas plantas, como pelos animais. Devido à sua persistência e hidrofobicidade, a aldrina bioconcentra-se principalmente através dos respectivos produtos de conversão. Os lacticínios e as carnes são as principais portas de entrada destes compostos nos seres humanos. Alguns sinais e sintomas de intoxicação provocada por aldrina incluem dores de cabeça, tonturas, náuseas, vómitos, espasmos e convulsões. A exposição ocupacional à aldrina, conjuntamente com a dieldrina e endrina, está intimamente ligada a aumentos das taxas de cancro do fígado.
. Clordano
Este composto é um insecticida de contacto, que tem vindo a ser utilizado em colheitas agrícolas e no combate às térmitas.
Como é rapidamente absorvido através da pele, e provou-se em laboratório que causa lesões no fígado em animais, julgando-se ainda poder causar cancro, o seu uso tem vindo a ser banido em muitos países. Entre os efeitos sobre a saúde, contam-se ainda desordens comportamentais nas crianças, quando a exposição ocorre antes do nascimento ou nos primeiros anos de vida, danos no sistemas endócrino, nervoso e digestivo. A exposição humana pode ocorrer pelo consumo de peixe contaminado, em casas que o utilizaram para combate às térmitas, e através do sangue e do leite da mãe, no caso dos bebés. No ambiente poderá ser encontrado em partículas na coluna de água, sedimentos, solos e atmosfera, podendo ser transportado pela chuva, neve e poeiras.
. DDT
O DDT foi primeiramente preparado em 1874 e veio a constituir, como insecticida, uma importante arma para a redução, a nível mundial, da malária e de outras doenças transmitidas por mosquitos.
Este composto e os seus metabolitos têm vindo a ser detectados nos alimentos, em várias regiões do globo, sendo esta a forma mais corrente de exposição para a população em geral. O DDT já foi também detectado no leite materno, que constitui, igualmente, uma via capaz de provocar graves efeitos nas crianças. Outros efeitos incluem disfunções do sistema imunitário, nervoso e reprodutivo, lesões no fígado, sendo ainda considerado um potencial agente carcinogénico.
É um composto persistente, que pode demorar mais de 15 anos a degradar-se no ambiente, podendo encontrar-se no solo, na água e na atmosfera. Apesar de dezenas de países já o terem banido, ou restringido o seu uso, ficou decidido em Joanesburgo que o DDT vai poder continuar a ser utilizado em países em desenvolvimento, para combater a malária.
. Dieldrina
A dieldrina tem vindo a ser utilizada na agricultura, como forma de controlo de pragas de insectos, nomeadamente, nas culturas de algodão, milho e citrinos.
Os lacticínios, o peixe e a carne constituem vias de entrada deste composto na cadeia alimentar do homem, bem como o leite materno. Os seus efeitos incluem o aumento das taxas de cancro de fígado, a debilitação do sistema imunitário e reprodutor, podendo, ainda, aumentar a mortalidade infantil e causar malformações dos fetos.
. Endrina
A endrina é um insecticida utilizado fundamentalmente em colheitas agrícolas de algodão e grãos.
A alimentação é a maior fonte de exposição a este composto, que aumenta as taxas de cancro de fígado.
. Heptacloro
O heptacloro é um insecticida de contacto, usado primeiramente no combate a insectos e térmitas. Tem vindo a ser utilizado também no controlo de insectos do algodão, gafanhotos e no combate à malária.
A alimentação é principal via de exposição a este composto. Apesar de não existir informação sobre intoxicações no homem, o heptcloro é responsável por sintomas nos animais, que englobam tremores, convulsões e lesões no fígado.
. Mirex
Trata-se de um insecticida com pouca actividade de contacto, que tem vindo a ser utilizado no combate a insectos rastejantes.
Possui um tempo médio de vida superior a 10 anos, sendo apontado como causador provável de cancro em humanos. Outros efeitos incluem lesões no aparelho digestivo, nos olhos, tiróide, sistemas nervoso e reprodutor. O consumo de carne e peixe é a maior fonte de exposição a este composto, referindo-se ainda a inalação e o leite materno como outras formas de entrada no organismo humano.
. Toxafeno
Este composto é um insecticida utilizado nas colheitas de algodão, cereais e vegetais.
A forma principal de exposição para a população é a alimentação. No entanto, a transmissão através do sangue e do leite materno pode provocar graves efeitos nas crianças. Pode ainda causar cancro, danos nos sistemas imunitário e nervoso e nos pulmões.
. Bifenilos policlorados (PCBs)
Os PCBs comportam misturas complexas de bifenilos, com diversos graus de cloração. Existem mais de 200 isómeros que entram em misturas comerciais. Introduzidos no comércio em 1929 pelos EUA, só três décadas depois um investigador sueco se deu conta da sua elevada acumulação nos organismos vivos. Em 1970, intoxicações graves nas fábricas de produção levaram o Japão a suspender o seu fabrico. Apesar disso, em 1977 praticamente todos os países da Europa começaram a produzi-los, comercializando-os sob vários nomes.
As propriedades químicas que os caracterizam facilitam-lhe uma grande aplicação: fluidos dieléctricos, líquidos isolantes, condensadores, transmissores de calor, lubrificantes, plastificantes de tintas, vernizes, colas, lacas, ceras, lâmpadas fluorescentes, papel químico e de imprensa, adjuvantes de pesticidas, entre outros.
De toda esta produção, 20% é destruída por incineração, 10% evapora-se e 55% é abandonada sobre a forma de lixo. Por este motivo, os PCB's encontram-se de forma quase sistemática nas águas continentais e oceânicas e, por conseguinte, nos géneros alimentícios: carne, leite, manteiga, ovos, peixe e derivados destes.
. Hexaclorobenzeno (HCB)
Este composto é um fungicida que foi introduzido na década de 40, para tratamento de sementes. É também um subproduto do fabrico de diversos químicos.
Os efeitos do HCB fazem-se sentir ao nível de lesões na pele, ossos, células sanguíneas, rins, sistema imunitário, nervoso e endócrino, deficiente desenvolvimento dos fetos, cancro e mesmo morte. A exposição ao HCB pode ocorrer durante a gravidez, através do sangue materno, através do leite durante o aleitamento, pelo consumo de carne contaminada e por inalação.
. Dioxinas e furanos
As dioxinas e furanos são involuntariamente originados como sub-produtos, essencialmente em processo de combustão de resíduos. Correspondem a dois grandes grupos de substâncias, com propriedades e estruturas químicas similares, que podem ter um a oito átomos de cloro.
Os efeitos provocados pela exposição humana a estes compostos incluem o cloroacne, alterações do foro psicológico, depressões, hepatites e outros problemas de fígado, e anormal produção de determinadas enzimas. As dioxinas são capazes de provocar cancro e disfunções ao nível imunológico e reprodutivo.
A alimentação é a maior porta de entrada destes compostos na população.
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1 comentário:

Anónimo disse...
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