segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

EMPREGOS AMIGOS DO AMBIENTE

Green Jobs
Produção e serviços «amigos do ambiente» são negócios lucrativos

Os green jobs estão no caminho certo. As funções, tarefas e trabalhos que têm um impacto significativo na preservação e recuperação da qualidade ambiental, também apelidados green jobs, são cada vez mais numerosos e lucrativos. Este sucesso é sintomático de uma nova economia mais direccionada para a poupança, para a eficácia na utilização de recursos e para a valorização das competências. A tese é defendida pela ILO (Organização Internacional do Trabalho) no seu último relatório «Green Jobs».
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Liliana Marujo Data: 17 de Fevereiro de 2009

Actualmente, o mercado de fornecimento de produtos e serviços «verdes» vale mil biliões de euros e valerá 2200 biliões dentro de 12 anos, segundo o relatório. Apenas no sector das energias renováveis, trabalham cerca de 2,3 milhões de pessoas. A ILO garante ainda que o número de empregos e funções com elevado impacto na preservação ambiental, bem como o valor financeiro dos respectivos mercados, deverá crescer significativamente nos próximos tempos. A necessidade de combater as alterações climáticas, criar e promover energias renováveis e ainda a necessidade reutilizar os recursos são essenciais para o desenvolvimento de uma economia sustentável. Aqui deixamos uma retrospectiva do estado da arte dos green jobs em cada um dos sectores. Neste âmbito, a investigação e desenvolvimento é muito importante. Países como a Alemanha, o Japão, a China, o Brasil e os Estados Unidos são os mais activos no I&D. O aumento do interesse económico na criação e comercialização de energias renováveis vai fazer com que os níveis de emprego nesta área aumentem significativamente: a energia eólica deverá empregar 2,1 milhões de pessoas e a energia solar cerca de 6,3 milhões até 2030. Cerca de 12 milhões novos postos de trabalho na agricultura e indústria relacionada com bio combustíveis serão criados, segundo o relatório da ILO.

Energias renováveis

Actualmente, o sector da produção e difusão de energias renováveis é o que mais postos de trabalho cria e o que deverá crescer mais nos próximos tempos. No total, são cerca de 2,3 milhões trabalhadores a desempenhar funções neste sector.

Sector da Construção
Apesar de ser difícil definir quais as funções, tarefas ou postos de trabalho dentro do sector da construção que possam ser consideradas «verdes», a ILO tentou perceber de que forma o sector tem evoluído em termos mundiais. Os green jobs no sector da construção passam pelo desenvolvimento de edifícios e dos seus componentes (sistema de ventilação, aquecimento de água, equipamento de escritório) energeticamente eficientes, bem como a requalificação de equipamentos mais antigos. Os empregos daqui decorrentes podem ser: arquitectos, projectistas, designers, engenheiros, gestores de projecto com competências na área da eficiência energética e que desenvolvam trabalhos «verdes». A necessidade de aumentar a capacidade de produção de energia por parte dos edifícios e a sua eficácia no uso da energia, são factores determinantes na criação de postos de trabalho.

No entanto, este tipo de funções requer recursos humanos com elevadas qualificações. O relatório da ILO prevê que, com a requalificação da indústria de construção na UE e nos Estados Unidos – tornando-a mais eficiente energeticamente – seria possível criar dois milhões novos postos de trabalho. Para cumprir à risca o objectivo da ETUC (European Trade Union Confederation) de reduzir em 75 por cento as emissões de Co2 para a atmosfera até 2030, deverão ser criados 3,5 milhões novos postos de trabalho.

Sector do Transporte
Este é o maior consumidor de energias fósseis e um dos principais contribuidores para o aquecimento global. Apesar de, no ramo da aviação, já se destacarem importantes avanços na eficiência energética, estes tornam-se insignificantes face à a rápida expansão do negócio. Para conseguir um impacto significativo é preciso continuar promover medidas relativas aos veículos de transporte terrestre.

Actualmente, as unidades de negócio da indústria automóvel destinadas à produção de carros «verde» têm cerca de 25 mil funcionários. Se queremos ver o aumento deste número, é importante definir estratégias baseadas no encurtamento de distâncias, que possa potenciar a utilização de outros tipos de transporte: a pé, de bicicleta ou transportes públicos.

Um dos sistemas que será capaz de criar um maior número de postos de trabalho nos transportes «verdes» deverá ser o «Rapid Bus Transit». Estão a ser desenvolvidos nas principais metrópoles do mundo inteiro, mas para isso será necessário requalificar os sistemas energéticos dos autocarros – o que é outra excelente oportunidade para a criação de postos de trabalho. A requalificação e fabrico de autocarros que funcionem com base em CNG (compressed natural gás) ou em sistemas eléctricos e híbridos são tarefas capazes de criar um elevado número de novos postos de trabalho e já estão a ser levados a cabo em países como a Índia, a China e o Paquistão.

Em Nova Deli, por exemplo, a introdução de 6100 autocarros baseados em sistemas e CNG vai criar 18 mil novos postos de trabalho, de acordo com o relatório da ILO.

Indústria e Reciclagem
As indústrias de extracção e produção de matérias-primas como o aço, alumínio e pasta de papel consomem muita energia e é complicado criar postos de trabalho que se possam chamar «verdes». No entanto, com o aumento da eficiência dos materiais e do uso da energia, bem como da reciclagem de materiais, é possível aumentar o número de funcionários e reduzir o impacto destas indústrias, de acordo com o estudo.

O caso do aço é sintomático. A produção de aço na China representa já 38 por cento da produção mundial. Apesar de terem sido conseguidos alguns resultados, a China fica muito atrás da Coreia do Sul, do Japão e da Europa de Leste no que diz respeito à eficiência energética na produção de aço. A reciclagem de aço poupa cerca de 40 a 75 por cento da energia necessária para extrair a tratar aço.

Uma das boas noticias relaciona-se com a recuperação e re-processamento de resíduos, que neste momento emprega cerca de 2700 pessoas nos Estados Unidos. O estudo compara estes níveis de produtividade com os restantes países e conclui que, se todos fizessem o mesmo, poderiam ser criados no total cerca e 25 mil novos postos de trabalho.

De acordo com a ILO, tornar a indústria do aço mais «verde» e mais competitiva contribuirá de forma activa para a retenção de trabalhadores. Atravessando neste momento uma fase de redução de número de trabalhadores, a introdução de medidas de a criação de postos de trabalho verdes nesta indústria iria obrigar à retenção de trabalhadores. «A iniciativa ULCOS (Ultra-Low Co2 Steelmaking) da União Europeia é um dos projectos que vai obrigar a indústria a adaptar-se e a tornar-se cada vez mais amiga do ambiente», lembra o estudo. Para o fazerem, as empresas precisam de trabalhadores.

O mesmo de passa com a indústria do alumínio. O estudo atesta que está no bom caminho, no entanto ainda há muito por fazer. A chamada produção secundária de alumínio (a separação do alumínio dos compostos através da electricidade) já representa cerca de 22 por cento de toda a produção de alumínio mundial. Este tipo de produção emprega actualmente 13 mil pessoas no Japão, mais de 10 mil na Europa e perto de seis mil nos Estados Unidos.

O caso da indústria do cimento é mais grave. Sendo a responsável por cerca de cinco por cento dos gases com efeitos de estufa emitidos para a atmosfera, não tem conseguido fazer com que os progressos na redução consigam ter impacto face ao aumento da produção e do consumo.

As três principais produtoras de cimento – a Cemex, a LaFarge e a Holcim – já se comprometeram a baixar o consumo de energia em 20 a 25 por cento nos próximos dez anos. O governo chinês também já começou a regulamentar sobre a energia usada no sector, o que deverá começar a ter impacto na criação de novos postos de trabalho. No entanto, o número de postos de trabalho que serão criados não será assim tão significativo, porque irão requerer elevada qualificação, de acordo com o estudo.

O cenário é mais animador no que diz respeito à produção de papel. A criação e aplicação de regras claras por parte dos governos da Alemanha, Japão e Coreia do Sul estão a desencadear um número elevado de programas de reciclagem. Esta é a forma mais eficiente e rápida de criar green jobs, de acordo com o estudo da ILO. Em 2000, existiam cerca de 9 765 postos de trabalho na área do re-processamento de papel, cerca de cinco mil na reciclagem e 1600 na ordenação apenas no Reino Unido. O Banco Mundial estima que em 2002 existissem cerca de mais de 28 mil postos de trabalho na área da reciclagem no Brasil. A Agência de Protecção Ambiental norte-americana estima que mais de 150 mil pessoas estejam empregadas na indústria da reciclagem do papel. A reciclagem de diversos materiais – que não o papel – também parece estar a ganhar cada vez mais importância no mercado de trabalho mundial, de acordo com o estudo ILO.

A organização acredita que são muitos os postos de trabalho associados à recolha e, recuperação, ordenação e processamento de materiais para reciclagem, no entanto os números são difíceis de contabilizar. Os dados relativos à China são de longe os mais concretos. Estima-se que cerca de 1,3 milhões de pessoas desempenham funções no sistema de recolha de lixo ou de materiais recicláveis. O número de indivíduos envolvidos em todo o processo de reciclagem, reutilização e nova fabricação ascende aos 10 milhões. No Brasil, estima-se que meio milhão de pessoas estejam directamente envolvidas nas funções do processo de reciclagem. O número ascende a um milhão quando nos referimos os Estados Unidos.

Em muitos dos países desenvolvidos em que a reciclagem é já uma realidade, muitos dos trabalhos associados à recolha e separação de materiais são pouco valorizados e considerados «sujos». «São trabalhos que visam em primeiro lugar a venda dos matérias separados, do que propriamente a reciclagem per si», diz o relatório.

Alimentação, agricultura e florestação
O futuro dos green jobs nos sectores da agricultura e alimentação é incerto porque vai depender da intervenção do Estado. Em 2006, cerca de 36,1 por cento da população mundial vivia da agricultura. A diminuição face à percentagem de 44,4 relativa ao ano de 1995 não foi assim tão significativa. Estes valores manter-se-ão elevados no futuro, o que significa que as politicas de eficiência ambiental no sector da agricultura terão um impacto enorme no número de green jobs de todo o mundo.

O sector das florestas, que inclui tratamento, plantação e manutenção, é também marcado por um cenário negro, no que diz respeito aos green jobs. As regras e o debate em torno da reflorestação e da manutenção das florestas mundiais tem conseguido exercer alguma pressão. O IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change – definiu algumas medidas para tornar o tratamento e gestão de florestas mais amigo do ambiente: redução da desflorestação e da degradação florestal; conservação das florestas mais importantes; reflorestação e ainda gestão sustentável das florestas. Estas permitem melhorar o impacto dos trabalhos na preservação ambiental e ainda criar ainda mais postos de trabalho nas florestas. O mesmo acontece com os padrões determinados pela Sustainable Forestry Management Certification, que estão a ter um papel cada vez mais importante nesta matéria, fornecendo receitas de impostos adicionais, melhoria nas condições de trabalho e ainda conformidade com os contratos de trabalho. No entanto, alerta o estudo, há que ainda agir no tipo de trabalho realizado nas florestas, já que tende a ser muito mal pago e sazonal. A ILO considera que as medidas tomadas até agora nos diferentes sectores estão a ter resultados benéficos, mas alerta para a necessidade do aumento de pressão por parte dos governos e organizações regulamentares.
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