sexta-feira, 3 de abril de 2009

Rubrica: EXEMPLOS DE VIDA

HANS JONAS
Ecoética e o Principio da Responsabilidade

«Assim como os meus antepassados semearam para mim antes de eu nascer,
também eu semearei para aqueles que se seguirem a mim.»
Antigo texto hebraico
Durante toda a História da Humanidade até à época medieval, a Natureza afigurou-se como duradoira e permanente, que sofria ciclos e alterações mas era sempre capaz de recuperar sem dificuldade, inclusivamente das pequenas agressões que o Homem lhe causava com as suas localizadas intervenções.

Esta concepção mudou radicalmente com a ciência moderna e a técnica dela derivada. O Homem passou a constituir, de facto, uma ameaça para a continuidade da Vida na Terra. Não só pode acabar com a sua existência como também pode alterar a essência do Homem e desfigurá-la mediante diversas manipulações.

Tudo isto representa uma mutação tal no campo da acção humana que nenhuma ética anterior se encontra à altura dos desafios do presente. Torna-se necessária uma nova ética: uma ética orientada para o futuro. Tal não significa que seja concebida para que a pratiquem apenas “os homens de amanhã”. Ao contrário, trata-se duma ética que deve reger precisamente os “homens de hoje” por forma a garantir que haja “os homens do futuro”.

Hans Jonas dedicou-se a esta problemática, tendo proposto uma filosofia baseada no Princípio da Responsabilidade, apresentando um novo paradigma ético, vocacionado para o nível colectivo e para acção dos agentes político-sociais, grandes responsáveis e contribuintes para “regrar e orientar da acção humana”, “uma ética actual que se preocupa com o futuro, que pretende proteger os nossos descendentes das consequências das nossas acções presentes”.

Este documento de reflexão circunscreve-se à Natureza Ambiental extra-humana e à Ecologia no sentido referente às relações entre o comportamento humano e as consequências da intervenção sobre o Ambiente Natural.

Tal se deve ao facto de se pretender analisar de que forma o pensamento de Hans Jonas se pode aplicar e constituir útil com instrumento de pensamento e acção na Saúde Pública, designadamente, no âmbito da Saúde Ambiental.

O Ambiente Natural é fundamental no garante da saúde das comunidades, sendo o objectivo último da Saúde Pública trabalhar de modo que, para além de sobreviver, as populações vivam com qualidade de vida, bem-estar… enfim, saúde plena.

Para tal há que partir para a elaboração, implementação e avaliação de políticas e planos de acção onde indicações éticas e orientações de pensamento baseados na Responsabilidade deverão ser assumidos e praticados. (...)
2.4 Novo Milénio
Chegado o novo milénio, deparamo-nos com uma complexa conjuntura. A civilização atingiu o ponto da sua evolução em que todas as descobertas herdadas, principalmente as mais recentes, dada a sua potencialidade, constituem um desafio ao entendimento e gestão.
A Humanidade vive a “Adolescência Tecnológica”.

O potencial de intervenção técnico-científica representa uma tremenda vulnerabilidade da Natureza. A Natureza é o maior objecto da acção humana e as suas consequências vão muito para além da proximidade espacial e temporal. Além disso, há o risco da irreversibilidade das consequências ou, pelo menos, o risco de efeito cumulativo.

O avanço contínuo e veloz da ciência e tecnologia conduzem a mudanças permanentes das condições a avaliar e rapidamente se reciclam e inviabilizam as experiências e conhecimentos anteriores. De modo decorrente e associado, ocorre a mudança do conceito do próprio Homem e cariz da sua acção.

Semelhante à experiência universal das crianças que transitam para a idade adulta, através desta “adolescência”, temos de encontrar uma maneira de orientar as mudanças das nossas vidas e sobreviver à nossa transição. Como é próprio da puberdade, avolumam-se os sentimentos de “invulnerabilidade” e “indestrutibilidade”, o que conduz frequentemente à negligência e ao desafio dos limites da autoridade e da razão.

Logo, face a um tempo caracterizado por desorientação e dúvida, dever-se-á seguir ou coexistir um tempo de reflexão, com subsequente adaptação. Nesse contexto, surge a necessidade e pertinência de restabelecer a ponte entre filosofia e a ciência. A Humanidade tem novas responsabilidades sobre as quais deverá reflectir eticamente. (...)

Retirado de:
http://www.saudepublica.web.pt/TrabCatarina/Ecoetica_CMeireles.htm

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